Destination Lisbon - Gate 101

Por Andreia Leite a sexta-feira, abril 20, 2012
Sabem quando se ouve dizer "Quase perdi o avião?" Todos temos ou conhecemos alguém com uma história destas para contar...

20 de Abril, 2012

Vou para Portugal, as primeiras férias oficiais do trabalho do Hospital! São 9h45, cheguei a casa cansada, acabadinha de sair da minha 3ª noite. Num dia normal eu iria dormir e só acordava lá para as 22h com os sonos todos trocados, mas desta vez o sono terá que ser adiado pois tenho que fazer a mala e apanhar o avião às 17h10m.

Faço a mala (levo a mala de porão cheia de presentes); arrumo o quarto; preparo umas sandes para comer na viajem e está na hora de sair de casa! Pela primeira vez saiu sem atrasos e lá vou eu calmamente apanhar o metro!

Depois de 20min no metro, chego à estação de Victoria de onde vou apanhar o próximo comboio para Gatwick Airport - a viajem geralmente demora entre 30 a 40 minutos.

Olho para a hora e verifico 14h53, o comboio ainda parado, e pergunto ao senhor que trabalha ali a que horas chegamos ao aeroporto: "16h40, Miss!"

Ora bem, 16h40... mas então que horas é que são mesmo?! 15h53?!?! 
Nisto verifico o bilhete do avião e confirmo que às 16h40 as portas fecham-se! Vôo às 17h10!


Vou perder o avião!!!! 


Devo estar tão cansada que calculei mal as horas que devia ter saído de casa, e ainda por cima olhei para o relógio e li mal as horas!

Resta-me esperar que nos próximos 40min algo atrase o avião.
A minha angústia não impede que as pessoas à minha volta acabem por dar o seu apoio a contarem-me as histórias de "Um dia quase perdi o avião, mas ele atrasou...!"
Pensa positivo, Andreia, pensa positivo!


16h39 - Chego à estação de Gatwick. Saiu a correr com as minhas duas malas! Tenho que mudar de terminal. Tenho que fazer o check-in da mala de porão!


16h45 - Senhor das malas liga para o avião e verifica que é tarde demais, os passageiros estão a embarcar:
 -"Por favor dirija-se ao balcão ali ao fundo para proceder à transferência para o próximo vôo que será amanhã!"


16h47 - Dilema: deixar a mala algures e ainda assim tentar apanhar?! Faltam 20 min para o avião partir, tento? SIM! Corro para o piso de baixo, e deixo a mala num Luggage Storage - "Voltarei em meia hora ou em 10 dias! Deseje-me sorte!" O recibo para o levantamento da mala regista 16h55.

Agora, os Seguranças! Eles geralmente já nem deixam passar quando é tarde demais, mas eu mostro o bilhete e digo "Please, I'm still trying! Thank you!"


Passado os seguranças, procuro o painel para descobrir qual a porta de embarque:
Lisbon - Gate 101 - Gate closed!

Ahhhh positivismo, pode ser que tenha acabado de fechar, pode ser que seja já aqui perto... vou tentar!


Já estava ali dentro, só me restava correr, e assim o fiz. Quem viaja em Easyjet sabe que geralmente estas portas são das últimas nos aeroportos, este caso não foi excepção. Já não sentia as pernas, nem o braço que levava a minha mala de mão, tinha a boca e a garganta seca e a única coisa que sabia fazer era desejar que estas fossem as últimas escadas rolantes.

Porta 99... 100... 101 - hall vazio; o senhor a arrumar papéis; consigo ver o avião através desta grande janela de vidro, ali mesmo à minha frente, e ofegante perguntei ao senhor:
"Please call inside, ask if they could still open the door!"


O senhor nem pestaneja e obedientemente pega no telefone e liga a perguntar:
- "What's the situation of the flight?" 


Aguardo cabisbaixa, faço figas por uma resposta positiva! O Senhor toca-me no braço para me dizer:
"I'm afraid it's too late, Miss. They had instructions to proceed. They are already removing the connection from the airplane. Recover your breath first, I'll tell you what to do after."

A esperança que tive até à última da hora e que me manteve firme nesta corrida contra o tempo foi-me retirada como quem tira um doce da boca de uma criança.
As lágrimas vieram instantaneamente à superficie! Cubro a cara com as mãos, tentando assimilar o presente. Perdi o avião!  E tudo o que eu conseguia pensar era no facto de ter um dia perdido, um dia a menos sem as pessoas que eu adoro, uma luta em vão.

Olho para a minha frente e consigo ver o avião ali, mesmo ali, do outro lado do vidro, a mangueira a afastar-se, já a uns 2 metros da porta, consigo ver o Comandante e o Piloto a olharem para mim e nisto vejo o comandante a acenar-me adeus. Eu acenei de volta e encolhi os ombros - tarde de mais. Entre eles trocam breves palavras e olhando de novo para mim o Comandante acena para eu entrar!

Eu devo ter esbugalhado muito os olhos para ter a certeza do que tinha visto, porque o piloto estava a sorrir todo divertido: e o comandante estava a fazer gestos para voltar a colocar a mangueira e abrir a porta!

O que se passou entretanto nem eu sei bem: num instante tinha o Comandante a receber-me à porta e a única coisa que eu queria fazer era saltar-lhe para o pescoço e dar-lhe uma abraço com as forças que ainda tinha, mas as centenas de olhares que me observavam naquele avião tão cheio intimidaram-me e acabei por lhe fazer algo que eu acredito parecer-se com uma vénia!

Eu já nem via lugares livres, e depois de uma senhora lá me indicar onde havia um, eu estava completamente exausta.

O avião esteve então parado 20 minutos: perdemos a oportunidade de ir para a pista no tempo certo, e tivemos que esperar nova "vaga".

No final não consegui dormir mais de 10 minutos na viagem, uma vez que os homens que vinham ao meu lado (um de cada lado) passaram o tempo todo na conversa um com o outro. E com 20 minutos de atraso lá chegámos ao destino - Lisboa que eu amo, Home Sweet Home!


10 dias depois volto ao aeroporto para recolher a mala grande com os presentes. Estes vão ser distribuídos daqui a 2 meses, quando voltar a casa.

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